INTRODUÇÃO
Todas as drogas ilícitas abordadas nesse projeto têm efeitos físicos imediatos, porém as drogas podem também afetar gravemente o desenvolvimento psicológico e emocional de uma pessoa, especialmente dos jovens.
De fato, podem afetar potencialidades que jamais serão recuperadas, pois as drogas passam a substituir o desenvolvimento de mecanismos naturais de defesa.
Embora apresentaremos as drogas separadamente, com frequência elas são usadas em conjunto. Essa mistura pode gerar efeitos físicos ou mentais graves e imprevisíveis.
As drogas afetam a capacidade de discernimento do usuário. Isso significa que os usuários de drogas podem estar mais vulneráveis a, por exemplo, manter relações sexuais sem proteção, o que pode levar a infecções pelas hepatites ou pelo HIV, entre outras doenças sexualmente transmissíveis.
Existem diversos motivos pelos quais as pessoas usam drogas ilícitas. Algumas o fazem para esquecer os problemas, outros porque se sentem entediados, por curiosidade ou simplesmente porque querem se sentir bem e julgam erroneamente essa prática como forma de atingir seu intento. Também podem se sentir pressionados a usar drogas para “encaixar” em determinado grupo ou podem consumi-las como uma forma de se rebelar ou chamar a atenção.
O uso de drogas pode ocorrer em todos os tipos de ambientes e contextos. Entre homens ou mulheres, jovens ou idosos, ricos ou pobres, com ou sem emprego, da cidade ou do campo – não existem distinções.
Embora alguns efeitos físicos provocados pelas drogas possam parecer agradáveis, estes não duram muito tempo. Depois do consumo, muitas pessoas ficam deprimidas e solitárias e começam a se sentir mal. Não há como saber se haverá o risco da dependência.
O uso problemático de substâncias é, essencialmente, um mecanismo para enfrentar ou escapar de sensações de insegurança. É preciso fazer com que os jovens percebam que não estão sozinhos diante destes desafios e que há uma gama de maneiras saudáveis para enfrenta-los. Demonstrar tolerância para que os jovens consigam comunicar seus pensamentos. Estimular a confiança, principalmente preparando os jovens para os diversos riscos a que podem estar expostos no contato com as drogas ilícitas.
Entre os fatores de riscos estão o fracasso acadêmico, distúrbios no ambiente familiar e a disponibilidade de drogas.
Entre os fatores de proteção estão o apoio da família e da comunidade, melhorias no ensino e na educação sobre drogas.
Atividades sobre ensinamento de vida incluem o aprendizado sobre como utilizar a capacidade de discernimento, como lidar com pressões de grupos, como dizer “não” às drogas, como desenvolver mecanismos para assegurar que uma pessoa não caia na armadilha das drogas e medidas para se comprometer em colocar um fim ao consumo de drogas.
O Projeto Comunidade Autônoma e Saudável da FFE, visa a promover encontros de reflexão e conhecimento das estratégias de conscientização, de caráter multidisciplinar, junto à comunidade interna e externa da IES, sobre a problemática das drogas na contemporaneidade bem como de estratégias de enfrentamento desses problemas através do fortalecimento dos vínculos de cooperação mútua, do desenvolvimento da autonomia e da mobilização comunitária.
Segundo Piaget, o desenvolvimento intelectual e moral só ocorre através da cooperação, pois dela derivam o respeito mútuo e a autonomia, enquanto a coação, como um processo que supõe relação de subordinação, impede que exista uma reciprocidade de ações e sentimentos, impossibilitando a construção das estruturas mentais operatórias necessárias à conquista da autonomia, imprescindível à formação e à consolidação da democracia. Ele elabora uma teoria que contempla a ação moral para que se possa levar o futuro cidadão a cumprir o ideal libertário e democrático, e não a ser apenas um bom orador ou juiz, porque acredita que é na ação moral que se confrontam afetividade e razão.
Em sua obra Estudos Sociológicos (1965/73), Piaget afirma que “essa natureza reflexiva, crítica e reguladora da cooperação é que permite a socialização intelectual do homem, abrindo espaço para a construção de um equilíbrio racional consciente”. Dessa forma, a partir da reflexão crítica de seus atos e dos outros, abre-se caminhos para transformações, mudanças de posturas que envolvem valores éticos e morais como o respeito mútuo ao outro e a responsabilidade subjetiva.
Piaget observa que na sociedade existem dois tipos de interações entre os sujeitos e que cada uma delas resultará na construção de um tipo de moral: moral da autonomia ou heteronomia.
Autonomia consiste em seguirmos leis, normas ou regras por vontade própria. É uma escolha racional e emocional em que o ser humano faz a sua opção. A vontade dá dignidade ao humano: ele apenas obedece àquilo que lhe faz um profundo sentido interno. Na autonomia, a obediência a uma regra se dá pela compreensão e concordância com sua vontade universal. Obedecemos porque concordamos com os motivos para a ação. Enquanto que a Heteronomia significa ser governado por outros, fora de nós, e quando não houver outros a nos mandar, punir ou ameaçar, podemos ficar sem governo e assim fazermos tudo o que nos der na telha. Na heteronomia a obediência se dá pelo medo da punição ou pelo interesse nas vantagens a serem obtidas pessoalmente, não havendo portanto, espaço para reflexão, mas apenas a imposição de um ponto de vista, tão comum em procedimentos que visam apenas à obediência às regras pois educa para a heteronomia.
Sendo a Instituição Educacional um dos ambientes formadores das atitudes morais, é importante pensarmos sobre os modos de interação na contemporaneidade, ao levantarmos questões pertinentes ao Projeto Comunidade Autônoma e Saudável: – Como podemos interagir em nossas ações com os jovens de modo a possibilitar reflexões que os ajudem a compreender uma ação com decorrências muitas vezes destrutivas e irreparáveis?
As mais exitosas abordagens de prevenção do uso de drogas incluem o papel da família, da escola e da comunidade em geral no fortalecimento de fatores de proteção que garantam uma infância e uma adolescência saudáveis, livres de riscos e que ofereçam meios viáveis de subsistência aos adultos. De forma similar, os métodos mais sustentáveis e bem sucedidos nas áreas de tratamento e atenção aos usuários são aqueles adaptados para as necessidades locais e integrados nos sistemas e serviços locais de saúde. Nas áreas de prevenção do uso problemático de drogas e ao enfrentamento do tráfico ilícito de drogas, as abordagens mais eficazes são as que têm a comunidade no seu centro.
Igualmente importante na abordagem do problema de drogas a partir de uma perspectiva inclusiva e participativa é que as intervenções baseadas na comunidade garantam que cada setor da sociedade se sinta responsável por enfrentar o desafio das drogas e se comprometa em fazer sua parte. Somente trabalhando em conjunto seremos capazes de construir um mundo mais saudável e seguro, um mundo no qual as pessoas mais vulneráveis sintam que podem ter esperanças no futuro.
Segundo o Depto. Estadual de Narcóticos do Estado do Paraná existem três espécies de prevenção: a primária, a secundária e a terciária.
A Prevenção Primária refere-se àquela realizada em um primeiro momento em escolas e na própria família, é aquela realizada pelos pais através do diálogo franco e principalmente pelos exemplos e pelos professores através da inclusão do tema em sala de aula, como forma de impedir os jovens de experimentar os ilícitos. O objetivo da prevenção primária é evitar a ocorrência da experimentação, do uso, do consumo de drogas e do problema que isso envolve, isto é, diminuir a incidência. É prevenir o uso da droga antes que ele comece (antes do primeiro contato com o produto).
De acordo com a mesma fonte, a Prevenção Secundária refere-se a “certificado que indivíduo ou grupos têm feito uso habitual de drogas, faz-se então uma abordagem distinta a fim de buscar a interrupção ou suspensão desse uso. Este conceito é aplicado para medidas que visem interromper o consumo quando este surge. A família ou instituição deve se abrir para o diálogo e esperar o momento certo para intervir”.
E finalmente a Prevenção Terciária que “caracteriza-se por ações que busquem contrapor-se ao consumo de drogas que caracteriza dependência. Busca motivar os dependentes a buscar medidas necessárias para o engajamento em um processo motivador de recuperação, a buscar tratamentos. Busca-se nesta forma de prevenção o incentivo ao indivíduo e à família a acreditarem no processo de recuperação e a colaborarem no processo de reintegração social.
O fato de o consumo de drogas ilegais estar limitado a 5% da população mundial acima de 15 anos de idade funciona como motivador para novas abordagens, que poderão colaborar para que os 95% restantes não se tornem usuários dessas substâncias.