As Escolas Montessorianas e sua importância no desenvolvimento das competências socioemocionais

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Breve biografia

Maria Montessori nasceu em 1870, em Chiaravalle, na Itália. Graduou-se em Engenharia antes de decidir se dedicar à Medicina, que cursou entre 1893 e 1896. Foi uma das primeiras mulheres a se formar nesse campo em seu país e em 1897 já atuava na área.

Nesse início de carreira, Montessori dedicou-se à psiquiatria e começou a trabalhar com crianças que possuíam alguma deficiência física ou cognitiva. A partir dos estudos dos franceses Jean Marc Gaspard Itard e Édouard Séguin, de suas observações na Clínica Psiquiátrica da Universidade de Roma e de suas pesquisas independentes sobre Pedagogia e Antropologia, Montessori interessou-se pela aprendizagem infantil.

Maria Montessori foi a primeira médica a se formar na Itália, pela Universidade de Roma, e por isso ficou conhecida como doutora.

O método

Seu foco de atenção esteve voltado à educação de crianças com deficiência, e foi sobre essa experiência que a autora criou um método de educação adequado à educação infantil, que tem como propósito as ideias de liberdade, atividade e independência.

A estudiosa desenvolveu uma nova organização didática e novos instrumentos de trabalho, buscando formas de contemplar demandas específicas dos alunos. Desse modo, definiu qual seria o ambiente mais propício para a aprendizagem, criando a verdadeira “reforma da escola”, ou seja, aquela que resolveria com a maior simplicidade os mais árduos problemas educacionais.

A proposta educacional desenvolvida por Montessori para a educação infantil estava centrada na educação dos sentidos. Nesse momento, foi levado em consideração que a educação dos sentidos tinha enorme importância pedagógica, e que seria a base para o desenvolvimento biológico da criança.

Para a estudiosa, o maior objetivo da educação deveria ser auxiliar o desenvolvimento da infância e não dar as crianças cultura, ou seja, ao estimular a criança com um material didático adequado, o educador estava provocando a educação dos sentidos e consequentemente desenvolvendo uma atividade de observação concentrada no âmbito educacional e não cultural.

Além disso, constata-se que a pedagogia montessoriana tem por intuito o desenvolvimento das habilidades e capacidades das crianças e não a transmissão de conhecimento e/ou conteúdos.

Para concretizar esse objetivo, a autora afirma que devemos adaptar o ambiente educacional às necessidades e individualidades dos alunos. Nesta proposta educacional, é necessário que o professor tenha uma postura diferenciada, visto que o mesmo não será o centro do processo de aprendizagem. Diante deste contexto, os objetos são agentes estimuladores de sua própria atividade e possuem um grau de importância maior do que a mediação docente. Pois são as crianças que os utilizam e constroem seu conhecimento com base na relação com os materiais. O papel do docente será o de explicar seu uso apenas.

Cabe aos educadores nesse contexto dar apoio para que as crianças explorem plenamente e de forma livre todas as possibilidades inscritas nos objetos, na medida da necessidade dos discentes.

Conforme Montessori (1937), quando uma criança se auto educa e realiza a sua auto formação, o próprio material lhe indicará seus erros. Restará ao professor observar e realizar a mediação da atividade psíquica das crianças e o seu desenvolvimento fisiológico.

 Existem muitos relatos de pesquisa científica que abordam as dificuldades encontradas pelos professores que atuavam no método tradicional e adotaram o método montessoriano, pois foi necessário adotar uma nova postura educacional e descontruir o modo como enxergavam o processo de ensino e aprendizagem.

Um aspecto importante no método montessoriano está diretamente ligado à ordenação do ambiente. Os objetos presentes nas classes são adequados à atividade infantil, apropriados ao desenvolvimento de cada fase. São atrativos, coloridos, simples, leves e, ao mesmo tempo resistentes. De cada objeto particular, existe um único exemplar.

Cada criança faz sua própria escolha dentre aqueles disponíveis. E, após utilizá-los, segundo seus próprios interesses e seu próprio ritmo, deve limpá-lo, arrumá-lo e recolocá-lo no lugar de onde retirou, para que possa ser utilizado por outra criança. Caso alguma criança demonstre o desejo de utilizar algum objeto que esteja em uso por um colega, a mesma terá que aguardar, exercitando, dessa maneira a paciência e disciplina.

Outro caráter inovador se dá quando a autora relata que a progressão não deve fundar-se no ano escolar, mas estar ligada ao movimento intelectual de cada aluno e toma por base a idade e o desenvolvimento da criança.

Além disso, o fato do professor ocupar um espaço menos ativo na construção do conhecimento não descarta a importância de sua atuação junto às crianças, visto que o docente passa a ocupar um papel de “guia e animador”. A autora enfatiza que o docente deve ter uma personalidade entusiasta e estar atento aos progressos do aluno.

Sabe-se que as informações referentes à inserção do método Montessori são escassas. No entanto, cabe destacar que o método demanda material especializado, bem como formação de docentes para sua aplicação, espaço amplo e adequado para as atividades propostas.

No Brasil, tivemos adesões somente em escolas privadas (em sua grande maioria), destinadas às classes mais favorecidas da sociedade, divergindo em nosso país, do propósito inicial do método.

Vale destacar, que na década de 70, a Secretaria de Educação de Valinhos – SP aplicou o método em suas escolas.

Concluímos que embora o método montessoriano tenha tido seguidores em todos os cantos do globo, o mesmo não teve força, contudo, para fecundar amplamente as práticas escolares ao longo do século XX.

Autora: Rogéria Alves Freire

Professora e Consultora Educacional, Mestre em Letras pela Universidade de São Paulo e Diretora da Faculdade Freire no município de Francisco Morato – SP.

Referências Bibliográficas

CANDAU, Vera Maria. Reiventar a escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

PERRENOUD, Philippe. Desenvolver Competências ou Ensinar saberes? Porto Alegre: Penso, 2013.

MONTESSORI, Maria. El Método de La Pedagogia Científica. Barcelona: Araluce, 1937.

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