Algumas etapas do método Paulo Freire são fundamentais para desenvolver a consciência crítica nos educandos. São elas:
Etapa de investigação
Esta é a etapa da descoberta do universo vocabular, em que são levantadas palavras e temas geradores relacionados com a vida cotidiana dos alfabetizandos e do grupo social a que eles pertencem. A descoberta desse universo vocabular pode ser efetuada por meio de encontros informais com os moradores do lugar em que se vai trabalhar, convivendo com eles, sentindo suas preocupações e captando elementos de sua cultura.
Etapas de tematização
Nesta etapa são codificados e decodificados os temas levantados na fase de tomada de consciência, contextualizando-os e substituindo a primeira visão mágica por uma visão crítica. Descobrem-se assim novos temas geradores, relacionados com os que foram inicialmente levantados. É nesta fase que são elaboradas as fichas para a decomposição das famílias fonéticas, dando subsídios para a leitura e escrita.
Etapas de problematização
Nesta etapa evidencia-se a necessidade de uma ação concreta, cultural, política, social, visando a superação de situações limites, isto é, de obstáculos. Saber ler e escrever torna-se instrumento de luta, atividade social e política, sendo que o objetivo final do método é a conscientização.
Exemplos de como trabalhar com palavras geradoras com turmas em processo de alfabetização.
1 – Listar as palavras mais utilizadas pelos alunos na série que o docente estiver lecionando. A ideia é explorar palavras, frases, provérbios, modos de falar, dentre outros. Esse trabalho preliminar de listar as palavras tem por intuito conhecer o universo dos discentes, ou seja, como se apresenta o pensamento e a realidade social do grupo com o qual se vai trabalhar.
2 – Dessa lista de palavras, nascerá as palavras e o temas geradores, ou seja, o miolo do método. As palavras geradoras deverão ser escolhidas considerando não apenas o seu significado e relevância social para o grupo do círculo de cultura. Cada palavra deverá estar associada a questões ligadas à vida. Assim, por exemplo, para a palavra geradora “Governo”, poderíamos discutir os seguintes temas geradores: plano político, poder político, o papel do povo na organização social, participação popular, corrupção, dentre outros.
Desse modo, a palavra geradora funcionará como chave.
3 – Segue abaixo um exemplo de como podemos trabalhar com palavras geradoras.
Palavra geradora: “salário”
Ideias para discussão:
– A valorização do trabalho
– Finalidade do salário: sobrevivência
– O horário do trabalho: segundo as normas trabalhistas.
– O salário mínimo x o salário justo
Finalidade da conversa:
– Levar o grupo a discutir sobre a situação dos trabalhadores de determinada empresa.
– Discutir o porquê dessa situação
Encaminhamento da conversa:
O que é salário? O que são benefícios?
O que sabemos sobre a reforma trabalhista?
O que podemos fazer para conseguir um salário justo?
Desse modo, para Freire, aprender faz parte do ato de libertar, de se humanizar e tornar-se um cidadão crítico.
Para finalizar, vale destacar as contribuições de Paulo Freire na promoção da saúde mental nas escolas.
Uma das contribuições de Freire na promoção da saúde mental está diretamente ligada ao diálogo, visto que o mesmo não é apenas uma técnica para conseguir melhores resultados, não é uma tática para fazer amigos ou conquistar os alunos. Isso não seria diálogo e sim manipulação. Para Paulo Freire, o diálogo faz parte da própria natureza humana. Os seres humanos se constroem em diálogo, pois são essencialmente comunicativos. Não há progresso humano sem diálogo. Para ele, o momento do diálogo é o momento em que os homens se encontram para transformar a realidade e progredir.
Embora no processo de conhecimento haja uma dimensão individual, essa dimensão não é suficiente para explicar todo o processo de conhecimento. Precisamos do outro para conhecer. Conhecer é um processo social, e o diálogo é justamente o cimento desse processo.
Paulo Freire insiste muito na necessidade do diálogo como estratégia de ensino, que pode dialogar justamente com contribuições para as discussões de saúde educacional e saúde mental nas escolas.
As escolas deveriam ouvir sempre seus alunos a respeito do que lhes é ensinado e fazer avaliações permanentes. O que acontece é o contrário; em geral, nunca se pergunta aos alunos o que querem aprender.
O diálogo faz parte dessa nossa pedagogia dialógica e dialética, que já desabrochou na educação em todo o mundo, renovando a prática pedagógica e dando-lhe um sentido moderno e progressista.
Rogéria Alves Freire
Professora e Consultora Educacional, Mestre em Letras e Diretora da Faculdade Freire no município de Francisco Morato – SP.
Referências Bibliográficas
BRANDAO, C.R. O que é método Paulo Freire. São Paulo. ed. Brasiliense, 2006.
BRANDÃO, Z. O saber escolar e as contradições de vida das camadas populares in: conferência brasileira da educação: anais, São Paulo, 1982, pp. 275-291.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro. ed. Paz e Terra, 1978.
SIMÕES, Jorge. A Ideologia de Paulo Freire. São Paulo: Edições Loyola, 1979.