Paulo Reglus Neves Freire foi um dois maiores educadores e pedagogo do mundo. Ele recebeu o título de patrono da educação brasileira em 2012 e foi o brasileiro mais homenageado da história por títulos de Doutor Honoris Causa. Reconhecido internacionalmente, o educador célebre recebeu 48 desses títulos de universidades brasileiras e estrangeiras, além de ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1995 e ganhar o prêmio de Educação para a Paz da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (UNESCO) em 1986.
Professor de Língua Portuguesa e formado em Direito, Freire aplicou, em 1963, criou um método próprio de alfabetização em Angicos, cidade do interior do Rio Grande do Norte. O projeto foi um sucesso, conseguindo alfabetizar 300 trabalhadores agrícolas em um tempo muito curto (45 dias), partindo do conhecimento prévio que essas pessoas já possuíam.
O método surgiu da sua preocupação com os excluídos. Devido aos resultados eficazes de seu projeto, o governo brasileiro na época aprovou a multiplicação dessa experiência em um Plano Nacional de Alfabetização.
Em 1964, meses após a implementação do Plano Nacional de Alfabetização, a ditadura militar extinguiu o projeto, pois enxergou na filosofia freireana um risco de revolta. Foi acusado de subversão e passou 72 dias na prisão.
Freire acreditava na educação como ferramenta de transformação social e como forma de reconhecer e reivindicar direitos.
No Chile, trabalhou por cinco anos no Instituto Chileno para Reforma Agrária (ICIRA).
Em 1969, foi professor visitante na Universidade de Harvard e na década de 70 atuou no Departamento de Educação do Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, onde trabalhou por 10 anos com projetos de ação educativa em mais de 30 países — dos europeus aos africanos —, podendo colocar em prática sua filosofia e voltando-se às classes mais pobres. Deu consultoria educacional a governos de países pobres, a maioria do continente africano, que passavam por um processo de independência na época.
No final de 1971, fez sua primeira visita a Zâmbia e Tanzânia. Em seguida passou a ter uma participação mais significativa na educação de Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe. E também influenciou as experiências de Angola e Moçambique.
Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil e mais tarde, foi professor universitário na Unicamp e na PUC-SP.
Em 1989, foi secretário da Educação no Município de São Paulo, sob a prefeitura de Luíza Erundina.
Em 1991, foi fundado em São Paulo o Instituto Paulo Freire com o objetivo de estender e elaborar as ideias do pensador. O instituto preserva os arquivos de Freire, realiza atividades relacionadas ao seu legado e atua em temas da educação brasileira e mundial.
Gadotti (1991), ressalta que com relação à metodologia de ensino de Freire, existe um certo rigor em sua análise que não poderíamos utilizar o termo “método Paulo Freire”, visto que o teórico revela que se trata mais de uma teoria do conhecimento e de uma filosofia da educação do que de um método de ensino. No entanto, Paulo Freire ficou conhecido pelo método de alfabetização que leva seu nome.
A metodologia de Paulo Freire consiste em uma maneira de educar conectada ao cotidiano dos estudantes e às experiências que eles têm — e por isso, também ligado à política, especialmente porque Freire trabalhou com a alfabetização de adultos.
Sua filosofia baseia-se no diálogo entre professor e aluno, procurando transformar o estudante em um aprendiz ativo. Nesse sentido, ele criticava os métodos de ensino em que o professor era tido como o detentor de todo o conhecimento, e o aluno apenas um “depositório” — o que ele chamava de “educação bancária”.
“Transformar os alunos em objetos receptores é uma tentativa de controlar o pensamento e a ação, leva homens e mulheres a ajustarem-se ao mundo e inibe o seu poder criativo.” (Paulo Freire)
Em seu livro Pedagogia do Oprimido, Freire cobre tudo o que ele disse, até então, a respeito de educação. A obra é resultado de seus cinco primeiros anos de exílio, fruto de um trabalho exercido em situações concretas.
Vale destacar que na obra é possível verificar a função da educação como um ato político, que liberta os indivíduos por meio da “consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade”. Ele defende uma educação que incentive a criticidade do aluno, indo além do português e da matemática. Suas ideias também possuem ligações com o pensamento marxista e críticas ao capitalismo.
Com relação a aplicabilidade do método, percebemos que antes da Ditadura Militar e durante a redemocratização, a filosofia de Paulo Freire exercia certa influência nas escolas públicas. Atualmente, suas obras continuam presentes nos debates pedagógicos.
De acordo com Paulo Saldaña, repórter que cobre Educação pelo jornal Folha de S. Paulo, muitas pessoas fazem uma análise errônea de que toda a educação brasileira é ligada ao método de Paulo Freire e de que o fracasso educacional brasileiro é culpa do uso de sua teoria, quando na verdade, as escolas — tanto as públicas quanto as privadas — utilizam uma combinação de diferentes linhas de ensino, e Freire não é a única referência. Será que o descaso e baixo investimento governamental não teria mais impacto sobre o fracasso na educação?
Com relação a inserção mundial do estudioso, vale salientar que Paulo Freire é um dos intelectuais brasileiros mais referenciados do mundo — está entre os 100 mais citados em estudos e o seu livro mais famoso, Pedagogia do Oprimido, é aterceira obra mais citada em trabalhos acadêmicos da área de humanas.
Ao redor do globo, o educador é tido como referência mundial em qualidade de ensino e já foi homenageado em diversos países. O Centro Paulo Freire Finlândia é um espaço dedicado à discussão da obra do escritor brasileiro. Há também centros de estudos semelhantes em outros países como África do Sul, Áustria, Alemanha, Holanda, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá.
Pelo mundo, há diversas instituições de ensino que adotam o método do educador brasileiro. Uma delas é a Revere High School, escola em Massachusetts, nos Estados Unidos, que foi reconhecida como a melhor instituição pública de Ensino Médio do país em 2014 pelo National Center for Urban School Transformation (Centro Nacional pela Transformação do Ensino Urbano) e, em 2016, recebeu o prêmio Schools of Opportunity (Escolas de Oportunidade), doNational Education Policy Center(Centro Nacional de Educação Política).
Autora: Rogéria Alves Freire
Professora e Consultora Educacional, Mestre em Letras e Diretora da Faculdade Freire no município de Francisco Morato – SP.
Referências Bibliográficas:
BRANDAO, C.R. O que é método Paulo Freire. São Paulo. ed. Brasiliense, 2006.
BRANDÃO, Z. O saber escolar e as contradições de vida das camadas populares in: conferência brasileira da educação: anais, São Paulo, 1982, pp. 275-291.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro. ed. Paz e Terra, 1978.